Um dos maiores desafios neste momento da pandemia de Covid-19 é a nossa capacidade de organização solidária para enfrentar a carga de sofrimento e adoecimento, e evitar, acima de tudo, o colapso do sistema de saúde.

 

Já está claro para todos que a falta de equipamentos para enfrentar a pandemia do coronavírus é uma cruel realidade e isto pode sim comprometer a eficácia do isolamento social e o tratamento dos enfermos.

Estamos em plena guerra e falta-nos munição: respiradores, testes laboratoriais, máscaras, lençóis, luvas, uniformes, álcool em gel. Neste momento de crise fica evidente a importância da indústria para o país.

Estamos vivendo um processo desindustrialização, de 2014 a 2018, mais de 25 mil fabricas fecharam. A participação da indústria de transformação no PIB ficou em 11,0% em 2019, a menor desde 1947. É momento de repensar e construir um novo projeto de desenvolvimento industrial para o Brasil.

A linha de frente de nosso combate é o SUS, e a indústria brasileira precisa garantir suprimentos para que os profissionais de saúde vençam esta luta a favor da vida. Os produtores habituais destes insumos já chegaram ao limite e a reconversão industrial para a produção de equipamentos e insumos hospitalares torna-se urgente.

O Brasil dispõe de universidades qualificadas para colaborar. O desafio aqui é prover financiamento célere do governo aos grupos de pesquisa e estabelecer vínculos com a indústria para a produção maciça. Isto já vem sendo feito de maneira tímida no sudeste porém é preciso atender às demandas de pesquisa das instituições da Bahia e de todo o Nordeste.

As grandes montadoras também devem contribuir com engenharia e parte da produção de peças, com o que auxiliam o aumento da produção de empresas estabelecidas no ramo de ventiladores ou então com produção própria. Elas têm expertise suficiente para a empreitada. Além disso, outras empresas podem entrar no ramo.

Outra ação importante é a organização de instruções para a indústria têxtil que deseja reorientar seu sistema produtivo a fim de fabricar máscaras de proteção e aventais de uso hospitalar.

Existem 25,2 mil empresas do segmento no Brasil, que empregam 1,5 milhão de trabalhadores diretos e 8 milhões indiretamente. O potencial é enorme, pois não se trata de produto de fabricação complexa e a demanda é altíssima. Além disso, há insumos suficientes no Brasil para a produção desses itens.

Como presidente do Fórum Nacional de Secretarias do Trabalho (Fonset) realizamos uma vídeo-conferência com todos os presidentes de centrais sindicais do Brasil e o Dieese. Deste evento nasceu a proposta de incentivar a criação de comitês estaduais de conversão industrial com o envolvimento dos governos, empresários e trabalhadores.

A ideia é mapear as indústrias que possam fazer essa conversão para a produção de respiradores mecânicos, álcool gel e equipamentos de proteção individual. Aqui na Bahia, por iniciativa do governador Rui Costa, este comitê foi criado com a participação das Federações das Indústrias, Associações Comerciais e CDL´s e as Centrais Sindicais CTB, CUT, Força Sindical e UGT.

Também será prioridade a requalificação dos trabalhadores para as novas atividades na implementação da reconversão produtiva, uma forma de preservação dos empregos e de continuidade de renda.

Chegou a hora de nos articularmos e nos mobilizarmos de imediato. Estamos numa guerra e para enfrentar o inimigo coronavírus, precisamos estar bem armados – com EPI´s, álcool em gel, desinfetante, respiradores, máscaras -, todos os equipamentos necessários para atender à demanda da pandemia e salvar vidas.

Nunca um dito popular foi tão importante quanto agora: um por todos, todos por um.

Davidson Magalhães é secretário do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte da Bahia

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