Há sinais, em diversos países, de que é possível superar a crise, gerando empregos e bem-estar. Isso requer conter a reprimarização da economia e o sistema financeiro — e apostar no protagonismo do Estado e das empresas públicas

Hoje, o Brasil sequer está entre os 10 países mais importantes na produção manufatureira, de acordo com informações da Confederação Nacional da Indústria (CNI) – e nossa participação na indústria manufatureira caiu de 27% para oscilar entre 9% e 10%, em menos de 40 anos. A notícia da saída da Ford do país, e as privatizações de importantes setores energéticos do país, são casos sintomáticos dessa crise – e de uma visão ignóbil sobre o futuro do país. A economia se reprimariza e os efeitos são nefastos, já que o agronegócio cria poucos empregos, inviabiliza a produção de alimentos (já que mira a exportação) e tem impactos irrisórios sobre a demanda industrial. As consequências são gravíssimas, principalmente numa sociedade altamente urbanizada como a brasileira, que depende da inter-relação entre diversos setores produtos.

“Estamos completamente fora do arco”, afiança, com apreensão, o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, professor na Unicamp e na Facamp. Segundo ele, os rumos econômicos que o país adotou, nos últimos anos, estão dessintonizados da realidade, almejando um mundo que já não existe: enquanto países como Reino Unido, EUA e França, por exemplo, discutem mudanças no sistema financeiro e o fortalecimento do papel do Estado para garantir mais direitos sociais e a criação de empregos, o Brasil implanta contrarreformas e aprofunda a “austeridade”. “São ideias muito primitivas e toscas de como funciona o capitalismo”, analise o economista, “O capitalismo dos anos 70, de Chicago, não existe mais – já era ruim naquele tempo, agora piorou ainda mais. Paulo Guedes parece ter um tapa-olhos, é incapaz de enxerga o que está acontecendo”.

Reindustrializar país exigirá esforços árduos – e é crucial para a soberania nacional, principalmente em um momento que a Quarta Revolução Industrial está em marcha e exige que nações revejam modelos ultrapassados de produção. Para isso, dois passos ousados serão necessários. O primeiro será redefinir o papel do mercado financeiro no Brasil, orientando-o para investimentos coletivos e criação de empregos; o segundo, recuperar o papel do Estado como organizador da economia, por meio de um núcleo de empresas públicas seja a vanguarda, conduzindo a entrada e investimentos posteriores do setor privado. Para isso será preciso reconstruir o ambiente institucional, corrompido no pós-golpe de 2016, com a arquitetura de uma economia que vise o Bem-Estar da população e reduza a sensação dos trabalhadores precários de que estão perdidos no mundo, sem nenhuma proteção.

A fala de Belluzzo está no vídeo acima. A série continua na próxima quinta-feira, 11/2. O ex-sindicalista Sebastião Neto, analisa a história do movimento operário brasileiro e os desafios à reindustrialização.

 

FONTE: https://outraspalavras.net/

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