Com a vitória de Lula, venceu a possibilidade de estabelecer de fato relações diplomáticas e trabalhar para o desenvolvimento soberano do País

A vitória de Lula foi acalento, vibração, esperança, despertar, foi frio na barriga e sonhos. Isso para nós, cidadãos comuns que queremos e lutamos pela soberania do nosso país. Foi resgatar o verde da proteção à Amazônia, que anda desmatada e em chamas, e o amarelo do ouro, metáfora da riqueza nacional, mas acinzentado pela fome de mais de 30 milhões de pessoas. Foi também carregar o vermelho da luta e da paixão que nos move a querer justiça, oportunidades, direitos e conquistas para a classe trabalhadora que constrói nosso Brasil.

Mas e internacionalmente? Qual o significado?

As manifestações dos diversos líderes mundiais falaram em resgatar relações diplomáticas. Se pegarmos o significado da palavra teremos que  diplomacia consiste na ação civilizada e pacífica de se relacionar com diferentes grupos, nações ou sociedades. Trata-se de um instrumento típico da política externa dos países, que se concentra em manter equilibradas as relações entre os diferentes Estados soberanos.

Estão aí palavras que representam ações que o desgoverno atual não praticava. Relacionar-se com diferentes grupos, por exemplo. Manter relações equilibradas. Durante 4 anos vivemos um atraso civilizacional interno e externo. Cada viagem para fora do País era mais um vexame internacional.

Resgatando alguns tristes episódios, podemos lembrar que Bolsonaro não foi à COP-26, após se mostrar totalmente isolado no G20 e sem qualquer traquejo para um evento importantíssimo para as culturas bilaterais. O presidente ainda deixou seus seguranças agrediram jornalistas, que é o que ele também estimula no Brasil de forma absurda e abusiva.

Outro episódio lamentável foi a bisonha passagem pelo funeral da rainha Elizabeth II, seguida da participação na abertura da 77ª Assembleia-Geral da ONU (Organização das Nações Unidas). No tradicional discurso do mandatário brasileiro, Bolsonaro fez o mesmo que nos anos anteriores: torturou fatos, atacou inimigos com mentiras e justificando sua fama de pária global.

Esses são dois exemplos de diversas vergonhas que apequenaram o Brasil aos olhos do mundo. O pior é que nem precisava sair do País para cometer vexames, como se viu na reunião realizada no Palácio da Alvorada com embaixadores de diversos países. A fala costumeiramente medíocre e os ataques ao sistema eleitoral foram destacados em diversos veículos internacionais.

O jornal britânico The Guardian afirmou que o sistema de votação brasileiro é usado sem controvérsia desde 1996 e que o líder de extrema-direita chamou diplomatas estrangeiros ao palácio presidencial e fez alegações infundadas sobre a integridade das próximas eleições”.

New York Times disse que a iniciativa de Bolsonaro foi “uma prévia potencial de sua estratégia para uma eleição que está a 75 dias e que as pesquisas preveem que ele vai perder”.

Washington Post publicou uma reportagem da Associated Press segundo a qual, no encontro com embaixadores, “o líder de extrema-direita não apresentou nenhuma evidência de suas alegações, o que gerou críticas de membros da autoridade eleitoral [TSE]”.

Aqui também poderia enumerar as diversas votações que representaram retrocessos em acordos internacionais quanto à defesa dos direitos humanos, condenando o Brasil a ficar nos registros históricos da ONU como país que se absteve, junto com Líbia, Afeganistão e Qatar, em votações sobre direito das mulheres. O governo de Jair Bolsonaro nem sequer aderiu à declaração feita, no Conselho de Direitos Humanos, por mais de 60 países para marcar o Dia Internacional das Mulheres e assumir compromissos no que se refere à saúde feminina. Em outra Assembleia Geral da ONU, 185 países pediram o fim do embargo dos EUA a Cuba; o Brasil se absteve.

Além de um fim a todos os vexames, retrocessos e aberrações, a eleição do presidente Lula também significa, internacionalmente, um breque no crescimento da extrema direita e do fascismo. Grupos neofascistas acompanhavam atentamente o processo eleitoral de um país continental, visto que uma pretensa reeleição de Bolsonaro em muito fortaleceria o movimento. O mundo todo tinha os olhos voltados para o resgate da democracia ou para o avanço do autoritarismo e do fascismo no Brasil.

Com a vitória de Lula, venceu a possibilidade de continuar a construir nossa tão jovem democracia. Venceu a possibilidade de estabelecer de fato relações diplomáticas e trabalhar para o desenvolvimento soberano do País. Venceu a capacidade de lutar contra as injustiças — como disse Che Guevara, “Se você é capaz de tremer de indignação a cada vez que se comete uma injustiça no mundo, então somos companheiros”.

Que o Brasil possa se agigantar para o mundo em defesa da democracia, dos direitos humanos, do meio ambiente e da vida com dignidade aos brasileiros e brasileiras.

Avante!

 

Por Cristina Castro - coordenadora da Secretaria de Relações Internacionais da Contee

Fonte contee.org.br

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