Quem votar em Bolsonaro em 2022 estará votando pela multiplicação da fome; pelo aumento da insegurança alimentar; pelo crescimento do desemprego, do subemprego e da informalidade; pelo ódio; pelo fim da educação, da saúde, da previdência social, da assistência social e do trabalho decente; pelo sepultamento definitivo do Estado Democrático de Direito.

Nos processos eleitorais democráticos, o voto, que simboliza seu coroamento, é expressão solene de vontade, de opção e de desejo. Ao exercê-lo, o/a eleitor/a manifesta os rumos que quer dar à sua cidade, ao estado e à nação, quando se trata de eleições gerais como as que se realizarão ao dia 2 de outubro de 2022, em 1° turno, e 30 do mesmo mês, para presidente e governadores, se for o caso.

Como sabiamente registrava o saudoso governador de São Paulo, Mário Covas, democrata de respeitável e imorredoura trajetória política, não se deve votar em alguém; deve-se, isto sim, votar por alguém, o que implica voto por avanços nos fundamentos e esteios do Estado Democrático de Direito e de todas as políticas públicas de primeira grandeza que lhe dão suporte: educação, saúde, trabalho, cultura, previdência social, segurança, moradia, alimentação, dentre outras.

Porém, como a democracia não possui salvo conduto que a faça imune a votante e votado corrompidos, que tramam e agem contra a ordem democrática, patenteia-se a possibilidade de que se vote com propósitos regressivos, visando ao estrangulamento do Estado Democrático de Direito, em todas suas dimensões.

No Brasil, o voto regressivo materializou-se em 2018, com a eleição de Bolsonaro, e, em conformidade com as pesquisas de intenção de voto, vai se materializar em grande medida nas eleições de outubro.

Os seus quase quatro anos de (des)governo comprovam que quem o escolheu, com a expectativa de que ele trouxesse o caos, não se decepcionou, pois que suas políticas voltadas para destruição da ordem democrática foram além da expectativa.

Ainda que se conceda o benefício da dúvida a alguns milhões de eleitores/as que, em 2018, votaram em Bolsonaro — o que é de questionável veracidade, pois que todos os sinais emanados de sua trajetória política como deputado federal, ao longo de 28 anos, e de suas bandeiras eleitorais indicavam que seu governo seria exatamente o que tem sido —, esse benefício não mais se sustenta, por nenhuma hipótese, quanto às eleições de 2022.

Desse modo, quem votar em Bolsonaro, em 2022, estará solene e expressamente votando pela total destruição dos objetivos, princípios, fundamentos e garantias constitucionais que ainda resistem sob seu governo, por mais que o negue ou que diga o contrário.

Quem votar em Bolsonaro em 2022 estará votando pela multiplicação da fome, que já atinge 33 milhões de brasileiros/as; pelo aumento da insegurança alimentar, que flagela nada menos que 125 milhões de cidadãos/ãs; pelo crescimento do desemprego, do subemprego e da informalidade, sem nenhum direito social e sem perspectivas, que se contam às dezenas de milhões; pelo ódio disseminado e a intolerância, que sequer admitem a pluralidade e a diversidade; pelo fim da educação, da saúde, da previdência social, da assistência social e do trabalho decente como direitos de todos/as e obrigação do Estado; pela escola sem partido, que não tolera a liberdade de aprender, ensinar e pesquisar e o pluralismo de ideias de concepções pedagógicas; e pelo sepultamento definitivo do Estado Democrático de Direito, sem direito até mesmo a réquiem.

O físico brasileiro Marcelo Gleiser, mundialmente acreditado, em entrevista concedida à Revista Trip-UOL, publicada aos 16 de janeiro de 2020, afirmou que a natureza não arquiteta um grande plano, para o bem ou o mal. Para ele, as “coisas acontecem, algumas planejadas por nós e outras de maneira acidental. O essencial é como nos preparamos para isso e como reagimos quando temos que encarar alguma dificuldade. No livro ‘Criação imperfeita’, argumento que a imperfeição é a mola criadora da natureza. Vejo isso na gente também. Se fossemos perfeitos, não teríamos a necessidade de criar e crescer. Se criamos para o bem ou para o mal é uma escolha que nos remete ao mundo da ética, e aí o que vale é a história e as intenções de cada um”.

Se a natureza não arquiteta grande plano para o bem ou para o mal, como afirma o referido físico, isso não vale para Bolsonaro e o bolsonarismo, que são muito mais que cultores do mal, são seus agentes e executores, tendo como alvo o Brasil.

O poeta maior Castro Alves, em seu magnífico poema “O Livro e a América”, assevera, nos primeiros versos da última estrofe, que “Num poema amortalhada nunca morre uma nação”.

Se o poeta, morto há exatos 151 anos, completados em julho último, fosse reescrever esse imortal poema na era bolsonariana, teria de remendar os belíssimos versos citados, retirando-lhes a rima, a simetria e tudo que representa, para dizer que, se nenhuma nação morre amortalhada em um poema, pode morrer amortalhada no voto. E isso é o que acontecerá à nação brasileira, se Bolsonaro for reeleito, o que é esperado somente pelos malfeitores do Estado Democrático de Direito; por nenhum/a democrata.

 

Por José Geraldo de Santana Oliveira - consultor jurídico da Contee

Fonte: contee.org.br/

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