O conceito de Educação Ambiental nasceu no Brasil e no mundo através de inúmeros encontros e discussões complexas até os nossos dias. Podemos citar o Tratado de EA para sociedades sustentáveis e responsabilidade global, a Agenda 21, a Institucionalização da EA no Brasil, a Carta Brasileira para EA, o programa nacional de EA (PRONEA), a política nacional de EA (PNEA) entre outras.
Os primeiros registros da utilização do termo EA datam de 1948 num encontro da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) em Paris mas foram definidos na Conferência de Estocolmo em 1972 com a inclusão na agenda internacional.
Em 1975 em Belgrado, foi lançado o programa de EA com definição de princípios e orientações futuras.
Em 1977, acontece em Tbilisi, na Georgia a Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental, organizado a partir de uma parceria entre a Unesco e o então recente Programa de Meio Ambiente da ONU (Pnuma). Foi deste encontro – firmado pelo Brasil – que saíram as definições, os objetivos, os princípios e as estratégias para a história da EA até hoje são adotados em todo o mundo.
Outro documento de extrema importância é o Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global elaborado na plenária do Fórum Global em 1992, durante a Conferência das Nações Unidas sobre o meio ambiente e Desenvolvimento, no Rio de Janeiro em 1992. Nesta conferencia estabeleceu-se princípios fundamentais da educação para sociedades sustentáveis, onde foi enfatizado a necessidade da formação de um pensamento crítico das sociedades e solidário, de interdisciplinaridade, de multiplicidade e diversidade. Estabelece ainda uma relação entre as políticas públicas de EA e a sustentabilidade, apontando princípios e um plano de ação para educadores ambientais. Enfatiza os processos participativos voltados para a recuperação, conservação e melhoria do meio ambiente e da qualidade de vida.
Durante a Rio 92 a agenda 21 concebeu um plano de ação foi aprovado pelos governos para ser adotado globalmente, nacional e localmente, por organizações do sistema das Nações Unidas, governos e pela sociedade civil, em todas as áreas em que as ações humanas impactam o meio ambiente. Foi delineado um planejamento participativo com análise da situação atual de cada país e um planejamento para um futuro socioambiental sustentável.
Em 1997 em Tessalonik os temas do Rio 92 foram reforçados. Contudo após cinco anos constatou-se uma EA insuficiente, configurando-se a necessidade de mudanças curriculares norteando uma EA em prol da sustentabilidade, ética e ações efetivas.
Na década anterior com iniciativa das Nações Unidas ocorreu a implementação de um plano de Desenvolvimento Sustentável através de EA, potencializando políticas e programas educacionais existentes.
No Brasil a EA surge através de um movimento conservacionista motivada pela emergência de um ambientalismo manifestado pelas ações de professores, estudantes, escolas e Ongs, prefeituras municipais e governos estaduais, com atividades voltadas à conservação e melhoria do meio ambiente. Nesta época surgem os primeiros cursos de especialização em EA.
“O processo de institucionalização da Educação Ambiental no governo federal brasileiro teve início em 1973 com a criação da Secretaria Especial do Meio Ambiente (Sema), vinculada à Presidência da República. Outro passo na institucionalização da Educação Ambiental foi dado em 1981, com a Política Nacional de Meio Ambiente (PNMA) que estabeleceu, no âmbito legislativo, a necessidade de inclusão da Educação Ambiental em todos os níveis de ensino, incluindo a educação da comunidade, objetivando capacitá-la para a participação ativa na defesa do meio ambiente. Reforçando essa tendência, a Constituição Federal, em 1988, estabeleceu, no inciso VI do artigo 225, a necessidade de “promover a história da educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente”.
A educação ambiental ainda que de natureza recente enquanto uma área delimitada do saber e sob essa denominação, vem demonstrando o quanto pode contribuir para a sociedade como um todo, em termos de reflexões, indagações, sensibilizações, discussões, ações e avaliações, pertinentes à temática sócio-ambiental.
O estudo de MEIRA (1998) situa a evolução da EA em três etapas, sendo a primeira (anos 60 e 70), momento no qual a educação ambiental encontrava-se mergulhada em concepções conservacionistas, quando o que estava em pauta era “educar para a conservação da natureza”. Nessa época, no entanto, estabeleceram-se marcos e concepções fundamentais para a área: princípios básicos, bases teóricas e metodológicas, definições, dentre outros, sobretudo através das grandes conferências internacionais. Numa segunda etapa (anos 80), a EA vê sua definição ampliar de enfoque: “educar para conscientizar toda a população sobre os problemas ambientais”, ao mesmo tempo em que se buscava a construção de fundamentos científicos para a EA. Podemos situar a década de 90 e o momento atual numa terceira etapa, caracterizada pela ampliação da concepção de educação ambiental. Percebe-se a natureza complexa e multidimensional da crise ecológica mundial (política, social, econômica, ambiental, moral, ética, etc). A EA passa a ser entendida como formação moral, política e social para enfrentar a complexidade do mundo atual.
Um de seus objetivos é formar cidadãos conscientes de suas responsabilidades individuais e coletivas, de modo a potencializar sua participação, local e global, na busca de alternativas. Existe na atualidade uma infinidade de definições de EA. Muito embora tenhamos apontado para a evolução da concepção do termo, ao longo das etapas propostas por MEIRA 1998), cabe-nos retomar a definição construída na Conferência Intergovernamental de Tbilisi (1977), citada por SATO (2002 : 23-4): “A Educação Ambiental é um processo de reconhecimento de valores e clarificação de conceitos, objetivando o desenvolvimento de habilidades e modificando as atitudes em relação ao meio, para entender e apreciar as inter-relações entre os seres humanos, suas culturas e seus meios biofísicos. A Educação Ambiental também está relacionada com a prática das tomadas de decisões e a ética que conduzem para a melhoria da qualidade de vida”. Ela refere-se, especialmente, à busca de qualidade de vida, por meio da melhoria das relações entre o ser humano e o meio ambiente, natural ou não. Ela lida com o potencial das pessoas para entender e transformar o meio ao seu redor. Segundo Pádua (1997), a Educação Ambiental surgiu como uma nova forma de encarar o papel do ser humano no mundo. Na medida em que parte de reflexões mais aprofundadas, a educação ambiental é bastante subversiva. Na busca de soluções que alteram ou subvertem a ordem vigente, propõe novos modelos de relacionamentos com a natureza, novos paradigmas e novos valores éticos. Com uma visão holística e sistêmica, adota posturas de integração e participação, onde cada indivíduo é estimulado a exercitar plenamente sua cidadania.
Existem, ainda, muitas outras definições para Educação Ambiental, como as apresentadas no Caderno de Conceitos Para se Fazer Educação Ambiental da Secretaria do Meio Ambiente (1997):
Educação Ambiental é a preparação de pessoas para sua vida enquanto membros da biosfera;
Educação Ambiental é o aprendizado para compreender, apreciar, saber lidar e manter os sistemas ambientais na sua totalidade;
Educação Ambiental significa aprender a ver o quadro global que cerca um problema específico - sua história, seus valores, percepções, fatores econômicos e tecnológicos, e os processos naturais ou artificiais que o causam e que sugerem ações para saná-lo;
Educação Ambiental é a aprendizagem de como gerenciar e melhorar as relações entre a sociedade humana e o ambiente, de modo integrado e sustentável;
A Educação Ambiental significa aprender a empregar novas tecnologias, aumentar a produtividade, evitar desastres ambientais, minorar os danos existentes, conhecer e utilizar novas oportunidades e tomar decisões acertadas; 5
Educação Ambiental é fundamentalmente uma educação para a resolução de problemas, a partir das bases filosóficas do holismo, da sustentabilidade e do aprimoramento.
A Educação Ambiental é uma dimensão complexa e essencial do processo pedagógico, estando ela situada no centro do projeto educativo de desenvolvimento do ser humano, pois enquanto ser da natureza define-se a partir dos paradigmas circunscritos nos processos de sustentabilidade e no entendimento do ambiente como uma realidade vital e complexa (LOUREIRO, 2004).
Para que a EA se realize, não é necessário trilhar somente o caminho da pesquisa-ação, pois são inúmeras as formas de desenvolver pesquisas, oferecendo potencial de estudos e descobertas, igualmente adequados e pertinentes, dependendo de cada campo e esfera de atuação. Pesquisas de interação simbólica, etnográficas, bibliográficas, diagnósticas ou estudos de caso são tão bem-sucedido quanto à pesquisa-ação (SATO; SANTOS, 2003).
Um dos pressupostos da Educação Ambiental é trabalhar os problemas específicos de cada grupo social, principalmente quando se tem por finalidade básica a gestão de unidades territoriais demarcadas, sem, contudo, deixar de articular tais problemas às questões macrossociais em que se inserem e à visão integradora do ambiente (LOUREIRO, 2004).
Os grupos possuem peculiaridades ligadas à situação particular de seus ambientes, ao modo como interagem neste e à percepção qualitativa dos problemas. É a partir da ação territorializada dos diferentes atores sociais, com seus distintos interesses, compreensões e necessidades, que se instauram os conflitos, acordos e diálogos pela apropriação e usos do patrimônio natural e se realizam os processos educativos voltados para a gestão democrática do ambiente (LOUREIRO, 2002).
Entende-se por território uma integração do espaço natural e o humano, levada a um equilíbrio ambiental, através de uma atuação educativa cotidiana, quando ocorrem transformações sociais. A cotidianidade se refere ao lugar ocupado e habitado pela pessoa, àquilo que nos fornece um ponto concreto a partir do qual exercitamos nossa cidadania diariamente, nos relacionamos com sujeitos, em que procuramos a coerência entre desejos, pensamentos e atitudes. Cotidianidade não é rotina (fazer por fazer e de modo repetitivo), mas o espaço imediato de realização e desenvolvimento do indivíduo (LOUREIRO, 2004). É no cotidiano, portanto, que se inscreve a Cultura, como um sistema de saberes (dos saberes complexos ao senso comum), lugar onde tudo pode ser reconhecido, como desejável ou não, para as realizações da vida diária. A confirmação de uma visão ideológica da realidade, o gosto artístico, a crença religiosa, os hábitos do dia-a-dia, a possibilidade das relações familiares, com os amigos ou com estranhos, em tudo o saber prévio do cotidiano nos orienta sobre como agir, o que evitar, aceitar, questionar (ROCHA JUNIOR, 2004).
Cotidianidade e territorialidade são conceitos-chave, pois ao nos referirmos ao processo educativo, precisamos entender onde cada educador e educando se situa (comunidade, família, classe social, cultura regional, individualidade) de modo a promovermos uma prática que seja simultaneamente específica e universal, que reconheça a diversidade na busca da igualdade, evitando um “educar para todos” que desconsidere os sujeitos concretos (LOUREIRO, 2004).
Refletir o espaço real ao nosso redor é necessário, pois existem tantas “coisas” que pensamos ser fácil saber e conhecer, que basta ter uma pequena informação e pensamos ser aptos para desenvolver tecnologias sem contabilizar e perceber o alto preço gerado por um passivo ambiental, gerando também o passivo social e educacional. Nessa reflexão, a EA se enquadra como uma ferramenta real e sempre atualizada para a formação do indivíduo e da sociedade crítica e participativa de todo contexto histórico das ciências que conceituam a apropriação do saber do homem no planeta Terra (MIRANDA, 2008).
A EA tem se tornado cada vez mais importante, como um meio de buscar apoio e participação dos diversos segmentos da sociedade para a conservação e a melhoria da qualidade de vida, uma vez que propicia ampliação dos conhecimentos, a mudança de valores e o aperfeiçoamento de habilidades, que juntos podem fazer com que os homens assumam comportamentos e atitudes que estejam em harmonia com o meio ambiente. Populações residentes em metrópoles têm demonstrado uma crescente necessidade de aproximação com a natureza buscando nos jardins zoológicos e unidades de conservação esta aproximação (COUTO-SANTOS et. al., 2005).
De acordo com Guimarães (2005), este tipo de EA assume sua dimensão política quando comprometida com a transformação da realidade rumo à sustentabilidade socioambiental e percebe o ambiente educativo como movimento, mas um movimento aderido ao da realidade socioambiental, onde se contextualiza. Essa adesão é que possibilita à intervenção educacional transformar a realidade socioambiental, e isso se dá por uma práxis educativa (reflexão-ação) que potencializa a ação cidadã de sujeitos individuais e coletivos, que resistem ao caminho único imposto pela racionalidade dominante.
A EA não tem a finalidade de reproduzir e dar sentido universal a modos de vida e a valores de grupos dominantes, hegemonicamente apresentados ou compreendidos como adequados à harmonização com a Natureza (como se esta fosse um processo dissociado da História), impondo condutas. Seu sentido primordial é o de estabelecer processos práticos e reflexivos que levem à consolidação de valores que possam ser entendidos e aceitos como favoráveis à sustentabilidade global, à justiça social e à preservação da vida (LOUREIRO, 2004).
Segundo Loureiro (2000) há um amplo cenário que define e redefine o próprio sentido das práxis educativas sócio ambientalista. Assim a tendência atual da EA é assumir, pelo menos por um grande número de educadores, a posição teórica proposta pelo autor, onde pressupõe a EA inserida em um processo educativo permanente, que tem por finalidade a construção de valores, conceitos, habilidades e atitudes que possibilitem o entendimento da realidade de vida e a atuação lúcida e responsável de atores sociais individuais e coletivos no ambiente.
De acordo com Sorrentino (2005), os grandes desafios para os educadores ambientais são, de um lado, o resgate e o desenvolvimento de valores e comportamentos (confiança, respeito mútuo, responsabilidade, compromisso, solidariedade e iniciativa), e de outro, o estímulo a uma visão global e crítica das questões ambientais e a promoção de um enfoque interdisciplinar que resgate e construa saberes.
A UNESCO declara que a educação ambiental deve ser um componente curricular básico até 2025
Mais de 80 ministros e vice-ministros, bem como 2,8 mil atores envolvidos com a educação e o meio ambiente, se comprometeram a tomar medidas concretas para transformar a aprendizagem para a sobrevivência de nosso planeta, ao adotar a Declaração de Berlim sobre Educação para o Desenvolvimento Sustentável (EDS) no final de uma Conferência Mundial virtual realizada de 17 a 19 de maio de 2021.
A Conferência, acompanhada online por mais de 10 mil espectadores, foi organizada pela UNESCO em cooperação com o Ministério Federal de Educação e Pesquisa da Alemanha e, como parceiro consultivo, a Comissão Nacional da Alemanha para a UNESCO.
A UNESCO fez um pedido para que a EDS seja um componente central de todos os sistemas educacionais, em todos os níveis, até 2025.
“É necessário que os gestores públicos tenham papel central em promover políticas públicas de Educação Ambiental e criar territórios educativos para que estudantes possam aprender e atuar para além dos muros da escola”.
Referencias:
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UNESCO 2021. Published in 2021 by the United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization, 7, place de Fontenoy, 75352 Paris 07 SP, France© UNESCO 2021.
A história da educação ambiental, ProNEA, 2005.
História da educação ambiental
Caderno CECAD (cadastro único para programas sociais)
Pror José Cláudio Höfling - Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.
- Licenciado em Ciências Biológicas pela UNESP – Campus de Rio Claro em 1975.
- Mestre em Ciências Biológicas pela UNESP – Campus de Rio Claro.
- Especialista em Oceanografia Biológica pela Universidade de São Paulo – Instituto Oceanográfico.
- Professor Universitário: Titular da Cadeira de Zoologia no Curso de Ciências Biológicas da PUC-CAMPINAS de 3/1975 a 12/2000.
- Editor da Revista Científica Bioikos de 1980 a 2000.
- Membro da CT-EA desde 2006 e do GT-Empreendimento desde 2012, dos Comitês PCJ.
- Cargos Administrativos:
- Coordenação do Departamento de Biologia da PUCC de 1980 a 1998.
- Coordenador do Programa de Educação Ambiental do Empreendimento ENTREVERDES.
- Produção bibliográfica:
Artigos publicados em periódicos nacionais 20
Trabalhos publicados em anais de eventos 27
Resumos 27
Livros ou capítulos de livros 01
Livros publicados 04
Textos em jornais ou revistas 06
Jornais de Notícias 05
Demais tipos de produção bibliográfica 04
Iniciações Científicas 11
Trabalhos publicados em periódicos
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Curriculum Lattes
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