Histórico: 21 de março é o Dia Internacional da Eliminação da Discriminação Racial, esta data foi instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU), em referência ao Massacre de Shaperville. Na mesma data, em 1960, em Gauteng, na África do Sul, no bairro de Shaperville, cerca de 5.000 pessoas faziam um protesto pacífico contra a Lei do Passe, que na época, obrigava os negros a portarem um cartão que indicava os locais onde era permitida sua circulação. Seguindo o Apartheid, regime de segregação racial adotado de 1948 a 1994, a polícia sul-africana abriu fogo sobre a multidão desarmada deixando 69 mortos e 186 feridos.

A Institucionalização da Data, marca, sobretudo, o momento para sérias reflexões acerca da realidade na sociedade brasileira e das mudanças necessárias e urgentes no combate ao Racismo.

A prática do racismo, um sistema de apartheid invisível e tão entranhado na vida social e econômica brasileira que continua ultrajando a dignidade de milhões de cidadãos.

Vale ressaltar que no Brasil, à Constituição de 1988 tornou a prática do racismo crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão e a Intolerância religiosa também é.

Nesta mesma data (21), comemora-se o Dia Nacional das Tradições das Raízes de Matrizes Africanas e Nações do Candomblé, instituída recentemente pelo Presidente Luís Inácio da Silva.

Somos nós Mulheres que pagamos pela crise, pelo machismo, pela intolerância, pagamos com nossas vidas. Também somos nós mulheres negras que somos tratadas na ausência do estado como a carne mais barata do mercado.

Somos enquanto mulheres negras, pobres e periféricas as que herdaram a opressão de gênero da sociedade hipócrita e a opressão sobre a raça, com a penalização do racismo.

O Racismo Institucional, seletiva seus usuários no atendimento à saúde, então são as Mulheres negras que mais sofrem com a violência obstétrica 65,9% dos casos, onde para as mulheres da pele escura e das ancas largas, o destino na hora do parto é a economia da anestesia, o cala boca na hora da dor com o triste comentário “Mas na hora de fazer estava gostoso”.

É o racismo Institucional que mantem os apartheids dividindo e levando a grande parcela das mulheres negras aos morros sem sanitarismo, ao trabalho doméstico, a informalidade, a baixa escolaridade, as doenças psicológicas por ser em maior número vítimas da violências contra a mulher e contra seus filhos jovens negros que são mortos por duras abordagens policiais.

São elas que apesar de toda a opressão lutam ainda mais, arduamente, contra o racismo cordial, aceitação até que a primeira piada ou a primeira chacota racista apareça. “Ela é Negra mais ela é da Gente”, doença adquirida no processo histórico de branqueamento de uma sociedade.

Então é isso, estamos mais uma vez refletindo e podendo observar, que esforços estão sendo feitos, mas na estratificação social e em processos golpistas, o primeiro golpe é certeiro na vida das Mulheres em especial das Mulheres Negras, o apartheid está até hoje impregnado no imaginário social de um pais que a Democracia Racial, tenta a todo custo, dar falsas sensações de vitória contra o tenebroso Estado das violações e desigualdades.
Mas com certeza será nós mulheres e mulheres negras juntas faremos a revolução, pois juntas lutaremos por nenhum direito a menos, contra o racismo e pelo Bem Viver.

Já estamos a 08 anos da Marcha de MULHERES NEGRAS, e marcharemos quantos vezes forem necessárias para garantir e defender, os direitos conquistados até agora,.os espaços que ainda não nos vemos, mas que estaremos.

"Se todas as vidas importassem, nós não precisaríamos proclamar enfaticamente que a vida dos negros importa." Essa foi uma das frases ditas por Davis durante um discurso sobre direitos humanos na Universidade Estadual San José.

Então, sigamos com reflexões e ações que nos façam ter um mundo melhor, um mundo equânime que valoriza as mulheres nas suas diversidades e pluralidades.

Como dizia Nelson Mandela, Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, elas podem ser ensinadas a amar.”

 

Por Flávia Costa
Pedagoga de formação, Conselheira Estadual de Participação de Desenvolvimento da Comunidade Negra, Feminista e Dirigente Estadual da UNEGRO SP

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