'O filme expõe o poder opressor do patriarcado e sua representação nas relações sociais expressas na dominação ideológica e na tentativa de exploração econômica.'

Em uma pequena cidade da Itália no início dos anos 1960, a bela Rossetta, interpretada pela  atriz Maria Grazia Cucinotta (a Beatrice do poético e inesquecível filme, O Carteiro e o Poeta), perde seu marido, o melhor alfaiate da cidade da Calábria, região do sul da Itália a beira-mar, que ocupa o “dedo” da península itálica ao sul de Nápoles. Rossetta e sua jovem filha Sofia (Marta Gastini), resistem ao pensamento retrógrado e preconceituoso da maioria da população daquele local, que insistem em imiscuir-se na vida das duas mulheres.

O filme A mulher do alfaiate, dirigido por Massimo Scaglione, encontra-se disponivel somente na prime video.

Pela película podemos apreender acerca do poder do patriarcado e sua representação nas relações sociais da comunidade, expressas na dominação ideológica e da tentativa de exploração econômica ao demonstrar o papel da política centrada na figura masculina, quando mostra a atuação de um vereador da cidade ligado a um grupo econômico que vê na oficina de costura, a possibilidade de realizar especulação imobiliária e dessa forma busca traficar a propriedade para transformá-la em um hotel para turistas. No entanto, a protagonista central se opõe firmemente contra a barganha do político local defendendo o edifício e a oficina de costura da família que é localizada em um belo local de Calábria.

No modo capitalista de produção praticamente tudo pode ser convertido em mercadoria. A forma de pensar e organizar a vida social bem como a forma de estruturação social das pessoas e suas pequenas propriedades se transformam em bens vendáveis, mercantiliza-se a vida e menospreza-se a vida humana.

Assim, no filme, o modo capitalista de produção aliado ao patriarcado é visivelmente apresentado, tanto no que se refere à tentativa de especulação imobiliária, e consequentemente enriquecimento de um grupo da cidade, quanto no que tange à opressão às mulheres. Suas vidas são expostas na comunidade, são observadas, ao ponto de serem cobradas pelo fato de viverem a sós e não terem uma figura masculina em seu convívio. Chegam a sofrer a opressão e a violência sexista quando ocorre  uma tentativa de estupro. Contudo, quando uma figura masculina surge como salvação na vida delas, isto é, a entrada em cena de um jovem e belo artista, Salvatore, que se apaixona Sofia e esta pelo jovem, nascendo daí uma união, registra-se uma certa  diminuição do preconceito à elas. No entanto, a comunidade próxima continua com imposições e desconfiança pela falta de nascimento de um filho do casal.

O patriarcado, como bem explicitado na película, é um sistema de organização social no qual as relações entre o masculino e o feminino apresentam-se de forma hierarquizada e desigual, resultando na opressão e exploração das mulheres, ou seja, a supremacia masculina ditada pelos valores do patriarcado atribui um maior valor às atividades masculinas em detrimento das atividades femininas. Como destacou Saffioti, a ideologia patriarcal cobre uma  estrutura  de  poder desigual entre mulheres e homens.

Rossetta não poderia cuidar da alfaiataria mesmo demonstrando sua capacidade para tal.  Ao perder o marido também perdeu sua legitimidade na sociedade preconceituosa. O filme acende luzes no sentido de que se lute sempre para romper as amarras conservadoras, autoritárias e patriarcais, tendo em Rosseta o alicerce para não desistir de lutar.

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Ficha técnica:
A Mulher do Alfaiate (pode conter spoiler)
Título original: La moglie del sarto
País: Itália
Diretor: Massimo Scaglione
Elenco: Maria Grazia Cucinotta, Marta Gastini, Alessio Vassallo
Gênero: Drama
Duração: 91’
Ano: 2014

 

Por Elza Campos - Assistente social, mestra em Educação e Trabalho pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), professora universitária, ex-presidente da UBM e titular da Secretaria de Mulheres do PCdoB-PR.

Fonte: vermelho.org.br/

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