Não é só a América do Sul que presencia a ascensão das forças de extrema direita – confirmada nas vitórias recentes do “anarcocapitalista” Javier Milei na Argentina, do ricaço Daniel Noboa no Equador e da oposição oligárquica ao presidente Gustavo Petro nas eleições municipais da Colômbia. A Europa também dá insistentes sinais de alerta sobre o avanço do neofascismo no mundo. Na semana passada foi a vez da Holanda.

O Partido pela Liberdade (PVV, na sigla em holandês) venceu as eleições legislativas, obtendo 37 assentos na Câmara Federal, o que significa mais do que o dobro da presença atual e lhe dá ampla vantagem em relação à aliança de centro-esquerda e ao bloco de centro-direita, que elegeram 25 e 24 deputados, respectivamente. Com isso, após 25 anos de presença no parlamento, a extrema direita poderá agora governar o país.

Como destaca o jornal Brasil de Fato, “o resultado abalou a política local e pode provocar reflexos em toda a Europa, que aguarda a formação do novo governo para medir os impactos da votação além das fronteiras e na vida dos imigrantes. A sigla ainda precisa negociar com outras legendas para conquistar a maioria e compor o gabinete. “O PVV não pode mais ser ignorado. Nós governaremos”, esbraveja o líder do partido, Geert Wilders.

PVV cresceu pregando o ódio aos imigrantes

O PVV é uma organização neofascista, que prega a xenofobia – o ódio aos imigrantes, em especial à chamada “invasão islâmica”. Geert Wilders já propôs a prisão e deportação de imigrantes, além da censura ao Alcorão, do fechamento de mesquitas e da cobrança de impostos sobre os véus usados pelas mulheres muçulmanas. Ele inclusive já foi condenado pela Justiça por chamar os marroquinos “escória”. Durante a campanha, ele tentou suavizar sua imagem para cativar o eleitorado e declarou que seria um primeiro-ministro “para todos”.

O agrupamento também é contra a integração regional e defende o “Nexit” – a saída da Holanda (Netherlands, em inglês) da União Europeia – na mesma linha do Brexit, aprovado pelos britânicos. “A surpreendente vitória da ultradireita na eleição parlamentar da Holanda gerou uma onda de alerta entre os defensores do projeto europeu, além de celebrações entusiasmadas entre os aliados iliberais do PVV”, destaca a Folha. O jornal lembra que o país é o quarto maior Produto Interno Bruto (PIB) per capita entre os 27 integrantes da UE.

Xenófobos avançam  na Suíça e na Finlândia

A resultado da eleição holandesa ocorre na esteira do avanço dos neofascistas em outros países da Europa. Em meados de outubro passado, a extrema direita venceu as eleições legislativas também na Suíça. O xenófobo Partido Popular Suíço (SVP, na sigla em alemão) obteve 29% dos votos. “Além de ter conseguido recuperar os assentos parlamentares perdidos nas últimas eleições, em 2019, a sigla ganhou nove assentos suplementares no Conselho Nacional. Ficou muito à frente do segundo lugar, o Partido Socialista Suíço, que conseguiu cerca de 17,5% dos votos”, registrou uma detalhada reportagem da Rede de Televisão de Portugal (RTP).

O SVP “apostou em uma retórica contra a ‘imigração em massa’, a ‘ditadura de gênero’ e a luta das minorias durante a campanha e alimentou o medo em relação aos migrantes, mostrando criminosos encapuzados, rostos feridos e mulheres assustadas em seus anúncios, cartazes e publicações nas redes sociais. Além das críticas da oposição, o partido foi acusado de ‘xenofobia’ pela Comissão Federal contra o racismo suíça”.

“Os resultados das eleições na Suíça, um dos países mais ricos do mundo, reforçam a tendência europeia em direção à direita causada pelo ‘medo’ e ‘incerteza’, não só pelos efeitos das crises financeiras, energéticas e humanitárias, mas também pelo aumento da ameaça terrorista e dos conflitos na Ucrânia e, mais recentemente, no Oriente Médio”, conclui a reportagem da RTP. 
 
Poucos meses antes, em abril, a direitista Coalizão Nacional (NCP) já havia vencido as eleições na Finlândia. Ela obteve 48 (20,8%) das 200 vagas disponíveis no Eduskunta, o parlamento finlandês. Foi seguida pelo partido xenófobo Os Finlandeses, com 46 cadeiras (20,1%) – com quem se aliou para governar o país. Também na Suécia, em setembro do ano passado, ocorreu uma “surpreendente” vitória da extrema-direita nas eleições legislativas. Enquanto isso, na Espanha e em Portugal, as siglas neofascistas Vox e Chega, respectivamente, acompanham as crises e as enormes dificuldades da socialdemocracia nos governos.
 
 
Por Altamiro Borges 
 
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